Hércules: a vida e a história de um eterno professor

Adilson Santana
4 min readJun 23, 2021
Foto: Adilson Santana

Hércules Pereira Félix, mais conhecido como seu Hércules, nasceu no dia 26 de junho de 1954, na capital paraibana. Sua infância foi toda no bairro da Torre, filho de José Jarbas Félix, funcionário público, e de Joana Pereira Félix, dona de casa. Hércules casou-se com a senhora Vera Lúcia Pereira, onde teve um filho, Rogério Pereira Félix.

Ele cresceu seguindo a linha dura do pai, que era bem rígido enquanto as normas a serem seguidas dentro de casa. Hércules herdou a rigidez e aplicou isso em sala de aula durante toda a sua vida como professor.

O interesse pelo teatro começou quando ele estudou no grupo Santa Júlia na torre, onde viveu parte da sua infância, sua primeira atuação foi interpretando um príncipe em uma apresentação inesquecível que contou com a presença de seus pais. Ali o universo da caixa do teatro o encantou e nunca mais saiu da sua cabeça.

Seu primeiro Grupo de Teatro foi em 1976, chamado “MOEQUE”, onde atuou com a peça “O MURO”, viajando por vários municípios da Paraíba, participou também do grupo Bigorna, coordenado pelo ator e diretor paraibano Fernando Teixeira, participando do espetáculo “PAPARABO”, dentre esses trabalhos.

Ele amava fazer aquilo, depositando em todos os seus trabalhos a sua energia, muitas vezes na universidade. Durante a ditadura, alguns espetáculos que trabalhou sofreram censura e para ele foi terrível lidar com isso.

O espetáculo “No tempo da crestomatia” era uma peça de jovens, que estudavam na universidade. Por ter um cunho sexual um pouco forte, durante uma apresentação em um convento, a polícia federal chegou e proibiu que seguissem com a apresentação. Mesmo ao comando do diretor para não parar o espetáculo, a polícia agiu com força, tomando máquinas fotográficas e impedindo-os de continuar.

Em 1982, Hércules aceitou o convite do ator e diretor paraibano Luiz Carlos Vasconcelos, para ministrar aula de teatro, ainda no antigo Colégio Estadual do Roger, que funcionava por trás do Museu São Francisco. Mas infelizmente naquela época a escola precisou passar por grande mudanças, foi quando o grupo de professores se reuniram e reivindicaram por outro espaço. Conseguiram de doação na época do Governo Burity, 1,5 hectare localizado na Rua Sizenando Costa S/N — Roger, por trás do Zoológico Bica, onde passou a funcionar a “Escola Piollin” hoje Centro Cultural Piollin, por onde Hércules lecionou por 40 anos.

Querido e respeitado pelos seus alunos, ele se destacava por suas estratégias de ensino e por ser o único professor de sua época que possuía turmas de trinta alunos. Sua inspiração no pedagogo Anton Makarenko foi essencial na construção de sua metodologia de ensino. Sua saída da Escola Piollin, rendeu saudades em seus alunos, que tanto o admiravam.

Em 2005, por iniciativa do arte-educador, surge o Grupo Jovem Piolin. Após quatro anos, o grupo se desvincula totalmente da Escola Piollin, formaliza sua existência jurídica e independente como Associação.

Tendo por valores a criatividade, transparência, resiliência, altruísmo e sustentabilidade. A Associação pretende proporcionar autodesenvolvimento para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos de comunidades carentes de João Pessoa, através do atendimento sócio-educativo-cultural, com vista à superação de todo tipo de desigualdade social, a partir da prática de valores éticos e morais. A partir de seu trabalho, muitos jovens tiveram seus destinos transformados para melhor.

Em 40 anos de trabalho com a arte, Hércules destaca a importância da arte em sua vida, e no recente trabalho que vem desempenhando no ponto de cultura artyoga — Associação de Teatro Artes e Yoga há oito anos, sempre fala que foi um grande erro da educação brasileira, afastar as artes da grade curricular das escolas, e relembra a ideia de Villa-Lobos, em trazer a música para as escolas e como ela promoveu um incentivo positivo na percepção artística das crianças.

Relembrando o passado, Hércules fala sobre Anísio Teixeira que era ministro da educação e queria na época implantar a escola em tempo integral no Brasil. Mas ele foi morto durante o regime militar onde vigorava uma ditadura e essa proposta de Anísio tinha sido interpretado, na época, como algo relacionado ao comunismo.

Hércules conta como um atraso para a educação no Brasil. Logo em seguida, já entrando em detalhes sobre sua vida artística, ele fala sobre os espetáculos chamados de jogral que eram realizados por ele juntamente com as crianças da comunidade, onde ele trabalhava textos de peças teatrais durante um longo tempo até colocar a peça em cartaz.

Seu Hércules, refletindo sobre as mudanças políticas que o Brasil vivencia nos últimos anos lamenta que muitas pessoas vão às ruas pedirem a volta da ditadura militar. Ele viveu naquele momento de autoritarismo, cerceamento das liberdades e ver com muita apreensão que os discursos autoritários e extremistas estejam na boca de líderes políticos atualmente. Para ele, quem pede isso é porque não viveu aquele período. A sociedade brasileira estaria como que anestesiada em relação ao autoritarismo.

Hércules ficou cego depois de um embate com outra pessoa do meio cultural. Da discussão, que ele não viu motivo algum, teve estresse e dor de cabeça, tendo que ir ao médico. Foi indicado para cirurgia e nela perdeu a visão. Mesmo assim, não perdeu a graça da existência. Conversar com ele é renovar a esperança que, apesar das dificuldades da vida, viver é sempre bom. O eterno professor é um resistente e lutador da cultura paraibana.

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Adilson Santana

Recifense, estudante de jornalismo, produtor e conteúdo. Um eterno aprendiz da vida!